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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Teares

 Zeca Baleiro - Balada do céu negro



Teares
Maria Quitéria

Os mosaicos desenhados
em tons castanhos
estão sendo delineados
num desenho
sem tamanho

eu trilho pelas linhas
onde aninhas
tantas palavras

as lavras
tensas lavas
de um vulcão interno
como um inferno
queimando
triscam o chão
e o tesão
já é um risco
um perigo
a arma
na mão do bandido

eu não digo
não ligo
continuo o traço
que faço
com as pernas descobertas

(mas eu vejo no espelho
o desejo refletido
dos teus olhos
no pentelho
quando se levanta o vestido)

e se acertas
a mira
com os olhos em seta
finjo que não vi
o estrago feito
no desconhecido leito
do desejo que pari

a linha continua
a rede se forma
tem forma
de canto
bem no canto
da borda nua
como se eu fosse tua
sem ser quem sou
e vou
fazendo um desenho ateu
dando as cores
aos falsos amores
que me juram
e transgrido
leis escritas
proscritas
como balas que furam
teu peito
pela minha falta de respeito
de só aceitar o que é meu.


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terça-feira, 26 de maio de 2009

Eu me deito

Andre Sardet - Gosto de Ti


Eu me deito
Maria Quitéria

Faço com gosto
esse entreposto
de cair de quatro
no teu quarto
na tua cama
minha dana
é esse desejo
a querência do beijo
a vontade
minha verdade
de te gostar
de querer trepar
talvez, fazer amor
com um pouco de dor
com a queimação
do tesão
nas ancas socadas
tuas estocadas
teu falo entrando
ganhando
terreno
moreno
você, meu doce
como fosse
o mel escorrido
o bandido
mascarado
um namorado
um brinquedo
meu segredo
a força que me move
me comove
me faz gozar nos dedos
sem os medos
dos humanos
dos danos
na coragem dos bichos
que se abrem
se atrevem
e, arreganhada
te espero
assanhada
te quero
desarvorada
te procuro
em meu escuro
no movimento
no gemido
o ardente furo
desaguando o unguento
fremido
esperado
sonhando
tua língua lanhando
tua mão estourando
em tapas e malícias
teu corpo pesando
me ganhando
no prazer dessas delícias...


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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Esse nosso caso...

marisa monte - mais uma vez




Esse nosso caso...
Maria Quitéria

... essa foda declamada
cifrada
é lance de sempre
são os bichos indômitos
tecendo pelos
no emaranhado
da razão

essa inconstância
constante
esse nosso lance
essa cadência
é a foda batida na janela
misturada com aquela
que vem sem explicação

esse desatino de menino
que vaga
por um ou outro cabelo branco
como fosse gozo
dessa nossa loucura sem chão
saindo no tranco

nesse puta emaranhado
- laço de renda -
das fodas e tonteiras
da unha nas costas
como um palco arranhado
ou peça de pano
ou de tablado
vagando passeio de telhado
e tantas besteiras
do canto que danço

tranço

e lanço
a flecha no teu peito
que, sem jeito
faz firulas de bicho sério
e nós dois
nesse lance safado
deixamos o arco-íris trotado
dar a cor desse adultério...


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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Tribal

Ouça:
Cântigos espirituais DE LOS indios americanos




Tribal
Maria Quitéria

As horas
se desenrolam
em sua teia
são cadeias
dos ponteiros
que extrapolam

eu penso

produzo imagens
calada
nos gritos da mente
pensamentos
que vagam
por teu olhar:

são inaudíveis aos outros
mortais
que não conhecem esse amor
imortal
banal
de desejos
seixos
sexo
feito de traços e rabiscos
fendas e triscos
hibiscos

etéreo
não perece
nem se parece
com garoa
é chuva torrencial
um manancial
de águas pelas coxas

é quente como um sol
tem chama como fogo
chispa
crepita
corre sobre o limpo
e eu sinto

(como uma mariposa
em volta da claridade
cerco flores
- borboleta nua -
batendo segredos
e juras)

os sons se calam
as imagens apagam
é a noite
soturna
noturna
do teu respirar

as nuvens traçam caminhos
são ninhos
nos nichos
escondidos no céu
desvendando a lua

nua

perco o fio das horas
nos meus cabelos
revoltos
que o negrume
cisma em desconcertar

penteio sonhos
enquanto o tempo
passarinho
passa rápido
no meu peito
que bate
descompassado
no movimento que faço
punho lento
devagarzinho

teus dedos passam
pelos fios das horas
no emaranhado
da cabeça
e desvenda
minha renda
de outros pelos

o tempo
segue em seu ruído mudo
nos espectros
do corpo
que teima frêmitos
queima
sem brisa
sem vento
no farfalhar dos segundos


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