AVISO: CONTEÚDO ADULTO PARA MAIORES DE 18 ANOS

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Arisca


Ouça:

http://geocities.yahoo.com.br/mq_mquiteria2/sob_medida.mid


Arisca
Maria Quitéria

Ele diz que eu sou arisca
que tem que ter cuidado
- mas que fica tarado -
e o seu falo todo trisca
ele vem no meio da noite
traz o brilho dos devassos
lanha até me sobrar bagaços
e ainda manda no açoite
ele tem esse jeito maduro
de quem sabe o gosto do gozo
ele faz tão gostoso
e eu viro só carne e furo
deixo de ser quem sou
sigo seu cheiro de macho
abro a loa e o racho
e pra ele eu me dou
ele manda e eu obedeço
é esse o seu preço
pra oferecer uma boa comida
e eu me descabelo, bandida
arranho suas costas
ele ri e diz: tu gostas
e eu, gata brava de orgia
a madame pelo dia
na noite me faço perdida
e mio leve na sua mão
subjugada ao seu tesão
mulher que nunca fui na vida...

Simultâneo:

domingo, 29 de junho de 2008

Sou a tua puta preferida

Ouça:

Em milhões de anos luz de solidão
Minhas noites novamente são azuis
Minhas tardes são douradas de verão
Você é o meu paraíso
A pessoa que eu tanto preciso
Com loucura e paixão
Eu rezo com o teu olhar
Eu gozo com a tua voz
Esse amor arrebenta com tudo
Parece até que o mundo não sobrevive sem nós
Nunca houve uma mulher como você

Entre tantas que já tive em minhas mãos
Eu preciso acreditar que sou feliz
Mas persigo os seus mistérios como um cão
E tudo parece tão claro
E tudo parece perfeito
Mas quando acordo e me vejo
O espelho diz que não
Quem sonha contigo molha a cama
Quem te ama dorme à sombra de um vulcão..."
(Fagner & Fausto Nilo)


Sou a tua puta preferida
Maria Quitéria

Eu sou esse bicho que você sabia que eu era
sou canção, letra, toada e buceta
sou risco, perigo, mansão e tapera
sou teu frisson, delírio de lama e sarjeta
sou a loa que te entrou pela noite adentro
a outra, a marginal, bandida de doer
a que te deu chão, rima e pavimento
e que botou o lance todo pra foder
leoa, loba, mulher de esquina, vagabunda
erótica, pornográfica, mansidão de zona
mulher à toa que balança a bunda
e abre a flor e dá o nome que tem: cona
sou a que não se faz, a que apenas é
a que você sonhou noites à fio e punhetou
a mesma que você misturou na sua falta de fé
mas que te entrou corpo adentro e que gozou
no verbo, na letra, na calçada, na poesia
a mulher que passa exalando o cio da cadela
que vive de gargalhar e de orgia
a que não dá a mínima mas te abre a janela
deixa a passagem, a porta destrancada
a que você tenta esquecer, insulta e luta
que no teu dentro vive nua e escancarada
a mulher que é teu espelho... a tua puta.

Simultâneo:

sexta-feira, 27 de junho de 2008

De tesões e palavras


Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quiteriaespecial/paixaolos.mid


De tesões e palavras
Maria Quitéria


Um frio mentiroso me escorrega

me deixando a pele morna e crua
e esse teu sopro me arrepia
a fresta incandescente e nua
da carne vermelha que já não se nega
ao desejo do tempero da orgia

dessa tua prosa de asfalto viciada
em que se busca a alegria do farol
o escuro do horizonte entre as coxas
no tesão dos pêlos em palavras frouxas
da minha fogueira de chama salgada
com teu melado escorrido de sol
desse inverno longo e sem cavalgada
onde a inocência dos lençóis é o pecado
do liso esfregado nas dunas macias
tendo o teu verso duro e teso já fincado
no vai e vem em que me vicias...
Nos versos feitos de açúcar e sal
num misto de mel e muito cio
passado entre as coxas de sisal
da palavra sinuosa feito um rio
palavra que baila na chama do fogo
nos cânticos entoados e profanos
com a sílaba besuntada que refogo
e sirvo nos pratos mais mundanos
versos mexidos com colher de alma
no corpo em caldeira que me consome
palavra que busca a guerra e a calma
alimento farto ao teu coração de homem

Que a palavra seja pedra
pontuda
que rasgue, tire sangue
seja a que não medra
venha taluda
nos deixe exangue
que foda como sexo
que goze como pica
que tenha ou não nexo
mas que seja a que fica
que nos traga aquele tremor
aquela coisa que tivemos
que talvez tenha nome de amor
ou seja o que nem sabemos
mas que ela nos abrace
nos faça ir mais longe e além
que ainda nos enlace
que só nos faça bem
que nos enrede em sua trama
que acenda a fogueira do tesão
que deite e nos leve pra cama
que se faça chuva e vulcão
e que ainda e depois de tudo
aninhe meu corpo no teu
minha greta e teu taludo
eu tua e você meu


Que seja como o vento
levantando a saia
mostrando o firmamento
e que ele nos caia
por sobre
dentro
que monte
esfole
que derrame água
alague
que ela venha no delírio
no filho
plantado no ventre
que seja entre
as coxas luzidias
que ela grite
escorra
que eu morra
e arrebite
que a palavra venha melada
gosmenta
com cheiro de menta
na língua safada
que seja vagabunda
palavra de zona
de risco
um trisco
deslizante na minha cona.

Simultâneo:

Vem que eu sou demais...


Ouça:

http://geocities.yahoo.com.br/quiteriaespecial/rrdemais.mid

Vem que eu sou demais...
Maria Quitéria

Enquanto me vem na morada dos deuses
lanhe e me dê na língua o gosto do inferno
passeando teu pau duro, sem reveses,
trazendo teu calor em meio ao meu inverno
e eu me ajoelharei à tua vontade, senhor
querendo essa trepada de sangrar
mexendo com gosto, rebolando sem dor,
no teu entra e sai até rasgar
rirei o riso profano das rameiras
e arrebitarei pra sentir o gostoso mais duro
gemendo e sussurrando todas as besteiras
contraindo mais o já apertado furo

vem e derruba, põe abaixo o templo pagão
do meu corpo aberto e teso
melado de gozo e de tesão
engatado no teu pau e todo preso
minha anca será teu altar a erigir o mastro
com a glória dos anjos cantadores
que deslizam nas minhas coxas de alabastro
e tocam as arpas dos ardores
onde tua oração se fará mais presente
no redondo da minha bunda oferecida
esperando tua reza, funda ou rente,
e o deslizar matreiro da tua arremetida...


Simultâneo:

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Deus pagão



Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quiteriaespecial/betania_meu_amor.mid

Deus pagão
Maria Quitéria


Ele faz da orgia uma festa no Olimpo
Baco, meu Baco, bebendo de mim
como um fogo que corre pelo chão limpo
como os desejos da carne que não têm fim
a concha aberta de borda vermelha é taça
à sua boca de língua afoita e tão lisa
sentindo seu entranhar duro, na raça
na festa dos deuses em que Baco pisa
nas uvas e as bebe em profana arruaça
socando-as com seu pilão devasso e teso
afunda-se mais dentro macerando meu sumo
e besunta toda minha coxa com seu peso
tirando meu melhor vinho para seu consumo
brinca com as estrelas do céu da minha greta
bebe na fonte e me coloca o vinho na boca
se embriagando de mim e me morde a teta
com sua luxúria devassa enquanto soca
tão profano quanto os deuses mais devassos
cospe no universo do meu corpo em derrama
sôfrego e bêbado me encoxa em seus laços
como um pagão sem destino e sua mulher dama
espalhando dentre os mortais o nosso gozo
que, embriagados, derramamos pela vida
no Monte onde os deuses gozam gostoso
ou numa cama de zona, perdida...

Simultâneo:

terça-feira, 24 de junho de 2008

Delírios humanos


Ouça:

http://geocities.yahoo.com.br/quiteriaespecial/simonesc.wav


Delírios humanos
Maria Quitéria

Saciar a fome de corpo, luxúria e sexo

no instinto animal que nos comanda
e ir com gosto buscando o que não tem nexo
o que ruge em nós e nos desanda
lassear o corpo nas lambidas nos pêlos
sentir o suor colando na língua
macho e fêmea trocando desvelos
na razão que não existe e então nos míngua
arrepiar a carne e dobrar a espinha
chamando o macho com o cheiro do cio
abrindo as carnes como colo que aninha
derramando águas como fosse um rio
e depois colar o corpo cansado das estocadas
dos urros e gemidos, dos gozos do acasalamento
e ficar lambendo leve, como salvos de emboscada,
o sal derramado que ainda nos serve de alimento
e mais tarde, aos beijos, tocar a face tão amada
focar os olhos e se enroscar nos panos
de uma cama que viveu a arena da selva armada
e que agora acolhe os corpos tão humanos...

http://recantodasletras.uol.com.br/

Meu corpo, tua fruta


Ouça:

http://geocities.yahoo.com.br/mq_mquiteria2/angela_ro_ro_amor_meu_grande_amor.mid


Meu corpo, tua fruta
Maria Quitéria

Manga suculenta escorrida na tua boca

em mel tão denso e perfumes de cio
ao teu bicho que me faz assim tão louca
e ao teu falo mais duro, de doce pavio
fruta melada escorrida no queixo
passada nas mãos e pelo corpo tão quente
da língua esfregada em meio ao seixo
e no entre pernas, onde me crava o dente
eu te alimento com o melado das coxas
do fruto besuntado de tanta saliva
da tua mordida cravando marcas roxas
na fruta do parto que te acolhe tão viva...

http://recantodasletras.uol.com.br/

Eu te quero...


Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/mq_mquiteria3/paixao.wav

"... A gente pode tatear a pedra

Sentir a maciez em suas arestas...
Ouvir na dissonância de mil frestas
A harmonia acre-doce do prazer
No cheiro do outro se cheirar
E aguçadamente se provar..."
(Ana Terra & Ângela Ro Ro)

Eu teu quero...
Maria Quitéria

... como a bruma a tomar conta
passeando pela minha pele
sentindo o peso da tua monta
e que com força me descabele
eu te quero inteiro profanando
a mulher que se ajoelha
que se abre sem peia e vai dando
fazendo o que lhe dá na telha
te quero desarvorado e louco
chegando duro e já pingando
quero teu adentrar e não é pouco
quero tua foda me domando
quero mais, quero tua cadência
o entra e sai e o gozo jorrado
quero a tua indecência
meu corpo inteiro melado
o engate, o nó, o cão chupando manga
o demônio fazendo o movimento
quero você arrancando minha tanga
no dente, como teu alimento
quero que mastigue a carne nua
que morda os meios e os seios
que me diga que sou tua
e me coloque os arreios
que não me deixe solta por nada
querendo outros ou sonhando
que encare essa vagaba
fodendo e mais gozo me dando
pode vir que a casa é tua
me abro, arregaço e te mostro
me dou na calçada e na rua
e de quatro, ao teu mando, me prostro
é desse jeito que eu te quero
e é bem assim que me domina
meta e, sem muito lero
me chame de mulher de esquina...

Simultâneo:

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Chupa toda


[Ouça:


Que me arasse e semeasse
Entre a carne e a semente
Que me tivesse, me colhesse
E me abocanhasse, metendo o dente
Que se fartasse da melhor fruta
E que a minha polpa escorresse
Pela tua boca de fome astuta
Pelo teu desejo que me entontece
Que me tivesse em meio à terra
No dentro do mato, no canavial
Que, de mim, mordesse a parte tenra
Chupando o fruto, como um animal...

http://recantodasletras.uol.com.br/

Canto torto

Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quiteriaespecial/a_palo_seco.mid

Canto torto
Maria Quitéria


É tanto rio, tanto mar, montanha e neve
é tanto céu, tanta loa, trens e passagens
vôos de asas longas, pensamento breve
e o peito ansiando sons de outras paragens
querendo o ar cinza da cidade adormecida
o mendigo na calçada, o lanche no meio da rua
a via superlotada, a dor já tão conhecida
e a imensidão do brilho prata da lua nua
é um desejo de viver as mesmas coisas e tudo igual
desprezando areias, oásis e montes tão brancos
querendo a velha mata, o cálice, o ritual
o manto e a antiga mensagem do desejo nos flancos
ser de novo a cabrocha galopeira de um alazão
mesmo que só sonhado em verso e prosa e desatino
ter a terra como lençol, extravasar todo o tesão
com o gosto de chorar e rir do próprio destino...

domingo, 22 de junho de 2008

Necessidades


Ouça:

http://geocities.yahoo.com.br/quiteriaespecial/avessocpa.wav

Necessidades
Maria Quitéria


Você quer voltar depois de rasgar o verso,
quer o espetáculo, quer a letra,
precisa da sanha do reverso
e do ardor da minha greta
você jogou fora o meu poema,
de novo me negou como Pedro e calou
vingou a solidão matando o tema
fez e aconteceu e se mandou
mas ainda me quer e me sonha como sempre,
me deseja onde outras tantas falharam,
quer o que aqui é bem mais quente;
o que te assanha em desejos que te aram
a terra entre as coxas ao teu falo mais duro,
teu olho focado na mão que sobe e desce,
a letra jorrada de gozo impuro
o meu nome na tua boca, que não fenece,
você quer o sonho e as rosas que te dei,
quer a magia da ponta dos meus dedos,
quer o calor que nunca te neguei
- a palavra fechada em segredos -
você precisa do meu delírio como uma droga,
quer a corda amarrada e que eu não te solte,
quer a língua da minha letra que ainda te afoga,
o tesão que só eu te dou, então... volte...

http://recantodasletras.uol.com.br/

Essas coisas...


Ouça:

http://geocities.yahoo.com.br/quitelos/negrali.wav

Essas coisas...
Maria Quitéria

E porque eu ainda te sonho
é que galopo, de novo,
o corcel negro da poesia

Tenho saudade, meu amor, saudade
palavra que aqui não tem plural
palavra que se junta e dói de verdade
palavra que se soma e me faz mal
Tenho medo, minha doçura, muito medo
de ter tido coragem de me atrever
de ter te contado tanto segredo
e você não ter entendido o meu querer
Tenho desejos, meu tesão, muitos desejos
eles me sobem nas noites de luar
e por mais que eu me negue aos ensejos
é por você que palpita e escorre o meu gozar
Tenho loucuras, meu homem, muitas loucuras
- espaços da mente que nem ouso -
pego as migalhas que me deu e elas são curas
para minha ave desarvorada e sem pouso
Tenho sonhos, meu senhor, muitos sonhos
delírios de tê-lo em pêlo e peso
frações de orgasmos medonhos
por imaginá-lo em minha boca mais teso...

Tenho essas coisas e deliro de montão
nessas vontades que me chegam e vão dando cria
na querência louca de dançar nua na tua mão
e que já não passam com banho de água fria...

http://recantodasletras.uol.com.br/

De solidão e rosas


Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quiteriaespecial/am.aconteceu.wav


De solidão e rosas
Maria Quitéria

Toquei as pétalas das palavras com as mãos
e elas tocaram em mim com a suavidade
dos desejos cálidos, aplacados pelos vãos,
e pela eternidade da distância e da saudade
me inebriei do perfume da pétala rubra
sentindo a umidade do orvalho macio;
lambi o espinho a que o sangue me recubra
o lábio inchado pelo delírio do meu cio
e o tango começou a tocar no meu ouvido
dançando pelas minhas pernas mais afoito
como fossem os dedos de um bandido
passando pela minha carne antes do coito
e, tão sôfrega, gemi a última palavra em grito
pelo sal que me sangrava a língua e o meios
da rosa passada pelo corpo, como em rito,
transformada em falo entre os meus seios...

http://recantodasletras.uol.com.br/

sábado, 21 de junho de 2008

Amor fugaz


Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quitelos/am.wav

Amor fugaz
Maria Quitéria


Você me aparece com essa cara
com esse teu olho tão escuro
e aguça demais a minha tara
em desejos de sacanagem atrás do muro
você tem essa cara de índio selvagem
de malandro pronto pra orgia
e eu sigo o teu olho numa viagem
como se fosse pra mim a tua folia
você tem essa coisa que me endoidece
me deixa lesa e toda sem sentido
e meu corpo inteiro fenece
querendo o teu peso bandido
você vem todo animal
um predador de fêmeas e entoca
como se fosse natural
beber o sal da minha boca
e fazer correr um melado solitário
que lambo entre os meus dedos
chamando de ordinário
quem eu amo em segredo...


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Holocausto


Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quitelos/frejat.doislados.wav

"São dois lados dessa moeda
Chamada obsessão
Amor e ódio moram juntos
Dividindo esse coração...
O pecado mora ao lado

Café na cama, traição
Abraçados, arame farpado
Não há luz sem escuridão..."
(Frejat)


Holocausto
Maria Quitéria


Quão de mim atravessará as paredes
e sairá, ao mundo, abrindo as janelas
dessa torre de marfim e suas redes
onde me aprisiono em vidas paralelas;
quão de mim vislumbrará horizontes
e seguirá, impávida, como se inocente,
traçando sexo e luxúria em tantas pontes
num esgar dorido a me trincar o dente;
quão, quais, em quantas me reparto,
me alvoroço, me apresento, me assombro,
em qual de mim, hoje, farei um parto
e renascerei da cinza de um escombro;
quem me apontará o dedo e me culpará,
quem me ofertará a chave da algema,
quem, com delicadeza, me acariciará,
quem ofertará o ombro e dirá: não tema?

por não saber me revisto da armadura
e o sorriso estampa a minha face em defesa,
a espada desembainhada em proteção dura
na devassidão que deito em cama e mesa
dessas escadas por onde subo e vou ao céu
- distando a torre a um longínquo ponto -
camuflando o que sou: tão doce, tão mel,
com tijolos do meu eu em seu confronto.

Simultâneo:

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Feito você



Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quitelos/nando_nao_vou_me_adaptar.mid



Feito você
Maria Quitéria

"Eu não caibo mais nas roupas
Que eu cabia
Eu não encho mais a casa
De alegria
Os anos se passaram
Enquanto eu dormia
E quem eu queria bem
Me esquecia..."
(Arnaldo Antunes)


Você falou de porrada
versou, fez sexo
disse coisa sem nexo
me deu letra de pancada
você chorou a pitanga
fez cara de coitadinho
de cão chupando manga
e mandou ver no sapatinho
você sacaneou de montão
iludiu pra cacete
tinha macete
e me dava um puta tesão
você sente a passagem
se curva ao tempo ido
mas ainda é bandido
e tem penca de bagagem
não vou apontar
nem falar de defeito
fico até meio sem jeito
de dizer e me espelhar
e igual a você também ando
meio que em desequilíbrio
falta o lance - trem e trilho-
mão e luva e vôo em bando
feito você eu também não
situo nem tenho a mesma cara
agora tô numas de solidão
e só você desperta minha tara
ando naquelas sem graça
de não entender nem sacar
também não vou me adaptar
e perdi o pique da pirraça
de afrontar bagaça
sentar no meio fio
tomar uma branca no rio
e encarar tudo na raça.

Simultâneo:
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Das ausências


Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quitelos/estrelas.mid


Das ausências
Maria Quitéria


Tua palavra bailava nas minhas manhãs
- era a poesia que eu decifrava -
que me acalentava no delírio das febres terçãs
como se fossem mandamentos e alimentava
meu corpo e meu dia, por todo o dia,
por todo o tempo, por todo meu momento
meu carnaval fora de época, minha folia
minha festa, minhas águas em movimento
tua alegria escrita em forma de desejo
era a manteiga deslizando no meu pão
a saliva escorregando, toda macia, no beijo
a luva que cabia na palma e dedos da minha mão
tua palavra brilhava como a estrela Dalva
- que ainda ficava piscando pelo dia -
depois de abraçar a noite de lua mais alva
na minha letra torta e de imprecisa poesia
teu verso era a lona do meu circo, a conta do terço
o feitiço que em meu caldeirão eu misturava
era como fosse meu primeiro amor e não esqueço
como o primeiro gozo que, sem saber, eu já gozava...

"...quando eu não estiver por perto,
canta aquela música que a gente ria,
- é tudo o que eu cantaria -
e quando eu for embora, você cantará..."


Simultâneo:
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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Língua em fio de navalha



Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quiteamando/sideral.wav

Língua em fio de navalha
(Maria Quitéria)

Tenho alguns piercings e tatuagem
e uma voragem
de viver aquele homem
que me consome
me mata de fome
me deixa em inanição
sem tesão
detenta
da sua algema-poesia
que é dia
noite
açoite
e fantasia
Tenho uns desejos de cama e sedução
vontade de mão
e pau entre as coxas
de umas mordidas roxas
dos dentes nos bicos
os picos
do gozo nos meios
os seios acobertando
o membro deslizante
do amante
metendo
Tenho uma cantiga e um tom
vermelho batom
que a boca abarca
desejo de deixar marca
vermelha
na cueca branca
e morder uma anca
uma bunda peluda
a mão na taluda
punhetando na banca
Tenho umas coisas muito loucas
vontades não poucas
de viver paixão
de sentir nas bocas
- de baixo e de cima -
um clima
de devassidão
Tenho umas querências de loucuras
dores sem curas
de encontrar um grão
que germine
não termine
um homem que, enfim, me roube
daquele que não me quis ou coube
e que levou meu coração...

Simultâneo:


ENQUANTO ME JULGAS


ENQUANTO ME JULGAS
(Maria Quitéria)

"eles riem de mim porque sou diferente,
eu rio deles porque são todos iguais."
(Kurt Cobain)

E u vou seguindo reto o meu caminho torto,
N ão recuo, vivo de fazer alarde e não me comporto;
Q uero é mais algazarra, alegria e muito mais folia,
U m é bem pouco, dois é quase bom e três é demais!
A ssim levo na farra e com gosto o meu dia
N em dando trela e, muito menos, bola pros tais.
T enho sim, um desejo imenso que me arrasta;
O uso, me atrevo, falo às claras e a minha casta,

M ais me agracia em vitórias no ringue da minha luta;
E é isso mesmo: pode me chamar de puta!

J ocosa, me desnudo e aceito com o maior gosto;
U m elogio desses é pra ter no peito como medalha
L ouvado até, o pódio mais alto, a subida no posto,
G algado pela competência de quem sabe fazer bandalha
A ceitando e me deliciando do tesão que tenho de sobra,
S eguindo sem ser prostituta: porque puta dá e não cobra.

Simultâneo:


Cheio de vazio


Ouça:
http://geocities.yahoo.com.br/quitelos/cheiodevaziopm.wav

Cheio de vazio
(Maria Quitéria)


Tem lugares onde o mar é bem mais límpido e claro,
o céu é cheio de nuvens branquinhas, branquinhas;
mas o coração fica ali parado, não tem disparo
nem os olhos brilham de desejo nas esquadrinhas,
o corpo lasseia e sente o impacto do sol e seu fogo
queima a carne e a pele dando um tom mais dourado,
mas não há movimento da rainha e do rei nesse jogo,
como um xadrez da natureza, sem cavalo enviesado;
o sangue corre e pulsa uma quentura entre as coxas,
uma vontade de rolar na areia e sentir um abraço,
- a boca seca por falta da saliva de um beijo -
e as curvas balanceiam em seu passo mais lasso,
como se estivessem sem atino, sem rumo, frouxas
e todo o corpo sente o impacto das ondas duras
batidas em espumas entre as pernas solitárias
querendo aquele homem em meio ao sal dessas brumas
deslizando suas águas de sêmen, tão arbitrárias,
e se faz a magia do retorno e os olhos mais que buscam
o corpo sente a aproximação fugaz liberando a saudade,
pois nenhum lugar do mundo traz essas luzes que ofuscam
e a delícia de saber que mesmo distante, em verdade,
mesmo não o tendo nos gozos que em mim triscam,
estou respirando com ele o mesmo ar dessa cidade...


Simultâneo: